Capítulo 2
E Perê Azil saiu pelo
mundo...
Perê Azil estava de volta à aldeia. Sempre após seus dias de
retiro em Tori, no Topo da Montanha, sua aldeia, embora pequena, com cerca de 300
habitantes, lhe parecia a Grande Cidade do Oeste. As vozes musicais das
mulheres moendo grãos e tubérculos, que eram a base da alimentação das suas
famílias; os risos das crianças correndo atrás de algum animal domesticado; o
canto dos homens na lida com a madeira, o barro, a palha, as pedras...
... Tudo soava tão diferente da atmosfera de Tori, a Pedra
da Montanha! Lá em cima, quando se comia, eram somente os frutos das árvores.
Só se bebia da fonte de água que jorrava da enorme pedra branca brilhante que
circundava toda a vegetação exuberante daquela parte de acesso restrito da
montanha. O grupo de homens e mulheres que lá vivia dormia algumas parcas horas
e quase nunca no interior de suas alvíssimas tendas. Muitas vezes Perê
encontrava um dos Sábios cochilando sob frondosas copas de árvores com troncos
rosados e tenras folhas amarelas; à beira dos córregos cristalinos que brotavam
subitamente das reentrâncias das pedras: ou, ainda, sobre esteiras estendidas
nos estreitos bosques perfumosos.
Mas, o que mais maravilhava Perê em Tori era o riso maroto,
infantil, que vivia a luzir nos olhos prateados e nos lábios rubros de cada um
daqueles homens e mulheres, que viviam exclusivamente para louvar o Único em
cada segundo do seu cotidiano. Entre eles não existia azáfama, listas de
tarefas árduas e estafantes a serem cumpridas... Eles simplesmente eram. E, no
entanto, Perê Azil sabia que toda aquela exuberância e a abundância da área da
Praia Branca se deviam àquele grupo, do “não trabalho” que aqueles homens e
mulheres realizavam com um sorriso nos lábios.
Quando, há alguns anos, Jorubadá, o líder, fora até a tenda
de seu clã, avisar que Perê precisava ser instruído entre os do Grupo de Tori,
o rapaz sentiu uma estranha exultação, embora não soubesse defini-la, tão criança
ele era. Agora ele sabia um pouco mais. Sabia o quanto a vida sem mácula dos
que se mantinham firmes no Topo da Montanha era crucial para o bem de toda a
encosta oriental do monte.
Embora fosse um povo simples, Perê sabia o quão perigoso
seria se esta gente se afastasse da proteção que lhes era graciosamente
oferecida. Mesmo instaladas um pouco abaixo do meio da encosta, era uma benção
a proximidade com os Sábios de Tori, pois sua atitude tinha tal poder que era
capaz de manter afastadas as mazelas que assolavam a vida dos que foram
empurrados para baixo, para a planície, em busca de uma ilusão de felicidade e
longevidade que, ao invés de se realizar, tinha apresentado sua face mais
amarga: doenças, ódio, vingança, abuso de poder, exploração e violência em
todas as suas formas.
Na sua pequena aldeia, porém, de onde se descortinava a
Praia Branca abaixo e se recebia brisa do Topo da Montanha, a vida era plena. Próximo
àquele pedaço de mar intocado por estar sob constante vigilância de olhos
invisíveis, a vida corria bem, as pessoas se respeitavam, havia algum amor a
ser partilhado. E essa era a riqueza do seu povo.
O rapaz estacou a meio da encosta onde se erguiam as tendas
de seu clã sob a sombra de três frondosas e vetustas árvores – não tão
exuberantes ou veneráveis quanto as que vicejavam em Tori, mas vigorosas,
saudáveis, de caules escuros, grossos e lisos, folhas largas e brancas,
triangulares, matizadas de lilás. Aí, por um momento, Perê contemplou a Praia
Branca e o anil do mar, liso como um espelho.
Os barcos eram raros naquela enseada. A Praia Branca, onde
havia atracado há muitos anos um grupo originário da Grande Cidade do Oeste,
não era usada como porto comum. Apenas embarcações que traziam o selo da Pa
Buturê – o núcleo de inteligência e conhecimento da Grande Cidade do Oeste,
tinham permissão para penetrar na barra e fincar âncora por lá. No momento não
havia nenhuma. Afinal, hoje em dia, pensava Perê, o que iriam fazer os grandes
diretores do mundo civilizado ali, naquela Praia Branca perdida no tempo...
Não. Ele não se queixava de seu destino, não arvorava vôos
mais altos, saltos mais largos sobre as vastas profundezas de perigos apenas
imaginados. Não. Estava bem ali, apesar de às vezes se questionar se a vida era
só isso. Ih! Que Jorubadá não registrasse seu pensamento. Perê podia vê-lo ali
de pé, a olhá-lo com aqueles seus olhos brilhantes a dizer: “Passado, presente
e futuro se fundem. O quê teme?”.
Perê Azil galgou o último degrau de pedra bruta, penetrou na
aldeia e atingiu o limiar de sua tenda. Imediatamente lhe subiu às narinas o
perfume da pasta moída e empastelada, assada na pedra, da sopa de verduras e
frutas e da nata batida...
“- Salve Perê Azil. Que os bons ventos o tragam”. Anaji-i,
que o recebeu com palavras tão efusivas, era sua velha e querida ama, que
cuidava dos afazeres domésticos do clã dos Azil, junto com duas de suas irmãs,
quatro concunhadas e mais sete ajudantes, todas elas mulheres.
Segundo a tradição da tribo de Perê, as tarefas eram
realizadas em grupos e eram ligadas a uma família, ou clã, por várias gerações.
O clã Koganga de Anaji-i cuidava do bem estar doméstico dos Azil, cujas tendas pertenciam
ao Bai, ou tribo, que, por sua vez, era formado por não mais do que três clãs.
E foram de fato estes três clãs os remanescentes no Bai, após a descida dos
insatisfeitos.
O clã Azil, originariamente, era de escribas e cuidava de
organizar e compilar a cultura da agora diminuta sociedade e dos povos daquela
parte do mundo. O pai, o avô e o bisavô de Perê eram escribas. Depois que o
número de habitantes se reduziu em mais de 90%, o pai de Perê – Perê-E-Li-á se
transferira para o Batru, o local de reunião de todos os escribas de todas as
tribos, um dos focos principais de sabedoria que emanavam de Pa Buturê, na Grande
Cidade do Oeste. Alguém ligado ao clã Koganga certamente cuidava do bem estar
dos patriarcas do clã dos Azil.
Já a mãe de Perê, Joku, do clã dos Jorú, estava
tradicionalmente ligada ao trabalho de tecelagem e olaria. É preciso dizer que
as famílias preferiam que as uniões fossem feitas entre os clãs. Mas isto não
era de fato relevante, pois todos daquele Bai eram aparentados, de uma forma ou
de outra. Os anciãos dos clãs diziam que os primeiros membros das tribos vieram
das estrelas do céu e dos ventos da terra. Quando Perê pediu confirmação da
lenda do seu povo, Jorubadá sorriu e respondeu: “A estrela desta tribo ainda
está por vir... Ou já chegou?”.
Joku era uma das mulheres de seu clã com maior habilidade
para tecer belas túnicas, mantos, véus, cocares delicados, faixas etc. Ela
produzia sua cota a partir das penas e pelos dos animais, material que ela
pacientemente colhia nos bosques entrincheirados por pedras na encosta, sob
arbustos, e nas areias da Praia Branca. Dificilmente ela voltava destas suas
incursões sem uma cesta cheia de matéria prima para seu trabalho. As outras
mulheres diziam que a sua voz encantava os pássaros, os peixes, crustáceos e
mamíferos que, em agradecimento por suas belas melodias, deixavam penas
coloridas, tufos de pelo sedoso, escamas rebrilhantes etc., que lhes eram
ofertadas nos bicos, presas pelas garras e patas ou agarradas às carapaças. Ao
ouvir estas estórias, Joku sorria...
Perê Azil (os homens ao nascer recebiam os nomes do clã dos
pais e, é claro, as mulheres recebiam os nomes das mães), embora honrasse o clã
dos Azil, como pupilo de Jorubadá, era muito mais parecido fisicamente com sua
mãe. Ao invés de onduladas, as madeixas de Perê eram lisas. E não era o negro
da noite que os coloria, mas o brilho do barro escuro, ainda cru, com o qual
sua mãe moldava utensílios e enfeites. Também não era alto como o pai. De
altura mediana, tinha os ombros largos, o tórax proeminente, a barriga lisa
como a tábua que em Anaji-i sovava a massa das raízes de casca dura e escura e
poupa dourada e maleável. As pernas eram proporcionalmente longas e bem feitas.
Só na cor da pele não havia diferença – tinham todos a tez como de bronze recém
derretido. Eram peles vermelhas.
Tanto na mãe quanto em Perê o que mais se destacava eram os
olhos – grandes e arredondados. E foram justamente estes dois pares de olhos
que brilharam intensamente em amor, quando Joku atravessou a tenda e os dois se
encontraram no lar à tardinha. Da mulher emanava sentimento profundo por seu
único filho, seu orgulho, seu presente do Único.
“-Meus olhos me pregam uma peça ou é mesmo Joku que chega?”,
saudou Anaji-í.
“- Seus olhos são mais agudos que os meus e os de Perê
juntos, Ji-í. E sua língua está sempre pronta a se mexer... Jorubadá me enviou
uma mensagem pelo pássaro azul avisando que meu filho cearia na tenda de Azil
e, com seu humor peculiar, concluiu assim: ‘Deixe que suas mãos descansem um
pouco do prazer de tecer e moldar e ouça a voz do seu coração’. Larguei meus
afazeres e vim aproveitar a companhia do meu querido filho”.
Mal acabara de dizer estas palavras, Joku já se enroscava no
colo do filho estendido na esteira, cobrindo-o de beijos.
“- Jorubadá conhece o coração de Perê, que anelava pelos
olhos de Jokú Joru, pelos braços de Jokú Joru”, disse o rapaz, enternecido,
diante do sorriso de sua mãe.
Anaijí-i estendeu a esteira de junco desenhada com flores
sobre a pedra lisa do centro da tenda, colocou as cuias de barro delicadamente
moldadas por Jokú, para que bebessem da água cristalina que jorrava do Topo da
Montanha, e foi trazendo as travessas de madeira com os alimentos. Depois,
finalmente, Anaijí-í se acocorou num dos lados da pedra chata e todos
pronunciaram a prece pela abundância, agradecendo o privilégio de desfrutar
iguarias tão finas. Em silêncio, o trio saciou sua fome.
Enlevados pela refeição, Perê e Anaijí-i se recostaram nas
almofadas para ouvir Jokú cantar. As fendas abertas da tenda desvendavam um céu
de anil, onde apontavam as primeiras estrelas da noite, grandes e brilhantes.
Pela abertura, penetrava a aragem impregnada de maresia.
Mal havia entoado a última nota da velha canção que lhe fora
ensinada por sua mãe, Joku soltou um grito abafado. Jorubadá encontrava-se
placidamente instalado no canto leste da sala, sobre uma coberta de xales e
mantos, o que a tornava muito confortável. Na semiescuridão do ambiente
simples, onde só havia objetos necessários ao bem estar da família, as íris de
Jorubadá faiscavam como fogo recém ateado:
“-Sua voz é tão bela, minha cara Jokú. Chego a pensar se
você não devia destiná-la exclusivamente ao Único... Mas que tolice digo eu?
Como se aqui você também não o louvasse...” Jorubadá falava tranquilamente,
como se fosse a coisa mais natural do mundo ele estar ali, sem ninguém saber
como foi que havia chegado.
Fez-se um silêncio profundo no recinto. Anaijí-í abaixou a
cabeça e cruzou as mãos sobre o peito, num gesto de submissão. Perê olhava
curioso para o Mestre. E o coração de Jokú batia forte, tão forte que não
entendia como todos não ouvissem o ritmo apressado do compasso.
Jorubadá sorria, mas desta vez, o brilho maroto dos seus
olhos foi substituído por um toque de compaixão, de profundo amor por aqueles
seres que deixavam em suspenso os próprios sentimentos para admirá-lo. Não lhe
era particularmente agradável a missão que o trouxera à tenda de Azil, o
escriba. Mas era o melhor a fazer com os recursos de que dispunha no momento...
E diante do que se avizinhava. De todos os que ali esperavam por suas palavras
sem sequer respirar, Joku era quem, aparentemente, teria mais a perder. E foi
ela justamente quem rompeu o silêncio:
“- Salve pastor das estrelas! Sua presença é uma benção para
a nossa tenda”. O formalismo de Jokú denotava a expectativa que a visita de
Jorubadá – tão rara – causava. O coração da mulher, que antes disparava, agora
mal batia.
“- A satisfação em privar da companhia de amigos tão
queridos é principalmente minha. Quase lamento o pouco tempo que me sobra para
desfrutar de um prazer tão genuíno. Não fossem minhas atividades tão absorventes,
que exerço por minha própria escolha, gozaria mais amiúde de momentos assim”,
disse o ancião.
Perê Azil, que havia deixado seu mestre há tão pouco tempo,
na impulsividade da juventude replicou: “– Se o senhor não costuma desfrutar
destes pequenos prazeres, algo mais o traz aqui”.
“– Sim, meu jovem. Neste intervalo a que vocês chamam tempo,
recebemos um chamado de nossos pares que atuam na Grande Cidade do Oeste para
que compareçamos a um conselho extraordinário. Alguns eventos aparentemente se
precipitaram e as diversas tribos e clãs que vivem sob a sombra da Torre de
Oito Pilares reivindicam nossa posição e a disponibilidade de mitigar alguns
inconvenientes causados por, digamos, certa displicência”, discorreu Jorubadá.
“– Mas o que acontece por lá?”, quis saber Perê. Ao que
Jorubadá respondeu: “Tenho alguns palpites, mas prefiro fazer meus comentários
quando eles forem indispensáveis”.
Perê ficou triste com a perspectiva de separação do seu
querido mestre. Agora, quando parecia iminente a suspensão de seus retiros em
Tori é que o menino via o quanto os desejava.
“- O senhor pretende demorar-se por lá?”, perguntou Perê,
acenando para o Oeste com um gesto de mão, como se quisesse ensinar ao mestre o
caminho. “- De fato, neste momento não sou capaz de responder a isto com
precisão”, respondeu Jorubadá.
Perê não se conteve: “Perê lamenta se afastar de Jorubadá...
Jorubadá é muito caro a Perê...”, disse o rapaz, os olhos marejados.
Jokú, que até então mal respirava, soltou um suspiro fundo,
mas não ousou dizer sequer uma palavra. Seu olhar não se desviava do rosto de
Jorubadá. Por um instante fugaz lhe pareceu que aquela espécie de alegria
contagiante que emanava da presença formidável do sábio se havia arrefecido.
Mas, logo depois, a energia quase visível que emanava dele restaurou-se, com um
tremeluzir, num lampejo súbito e resplandecente.
“-De fato, você não deveria se lamentar, meu menino”. Agora
Joku via claramente a luminosidade em volta do rosto de Jorubadá. Perê abaixou
a cabeça e silenciou. Ele fora mesmo temerário ao contradizer o mestre. Mas
Jokú compreendeu o sentido real das palavras do sábio e, num ímpeto, como se as
palavras escapassem sua boca, falou:
“-Perê, rebento de Jokú. Alegria de minha juventude. Sol que
ilumina as trilhas do meu caminho. Sorriso que varre minhas tristezas. O
venerável o adverte para que não se lamente, simplesmente porque será seu pajem
nesta viagem!”
Jorubadá, com o sorriso a emitir faíscas, confirmou com um
meneio de cabeça.
“- Mas eu não entendo! Jorubadá sempre alertou Perê para
evitar a convivência com nossos irmãos que desceram a montanha! Por várias
vezes Jorubadá advertiu Perê do perigo que corremos por habitar tão próximos
deles! E agora Jorubadá diz a Perê que mais, muito mais do que descer a
montanha, Perê vai atravessar metade do mundo e ir à Grande Cidade do Oeste! Lá
é muito mais longe de Tori! E a proteção que Tori nos dá? Ficaremos sem ela?
Estaremos expostos a todo o tipo de ataque?” Não havia ira na voz de Perê, mas
uma surpresa mesclada com medo, que tornava sua voz estridente.
Jokú aproximou-se mais do filho. Pegou com sua mão pequena
as mãos fortes de Perê e sentiu que elas tremiam. Anaiji-í que, até então, não
ousara mexer um dedo curvou-se um pouco e foi possível ouvir um soluço abafado.
Uma gaivota gritou ao longe. No horizonte, os derradeiros
raios que os iluminara naquele dia, já rubros, esmaecidos, mergulhavam no mar.
O firmamento já se cobria com seu manto estrelado e a noite começava: a vida
diurna era substituída pela vida noturna – bichos e insetos soltavam seus sons,
as árvores se cobriam de luz. As sentinelas do clã se comunicavam por silvos
abafados. O brilhar das estrelas eram sinais despertos e tudo o que era vivo se
aguçava com a brisa refrescante que soprava da montanha, com seu perfume
vivificante...
Na tenda, todos aguardavam as palavras de Jorubadá:
“-De fato o alertei. E mantenho o alerta aos clãs que aqui
permanecem, ou seja, de evitarem descer a montanha. Quanto a você, há de fato
perigo. Mas Perê não estará sozinho e, sim, na companhia de Jorubadá. E isso
faz alguma diferença”.
E continuou:
“- Quanto ao seu aprendizado, não será descuidado. Digamos
que agora ingressamos numa nova etapa dele. Eu já havia lhe dito isso, filho.
Todo conhecimento precisa ser testado. O que Perê Azil teme?”. Os olhos de
Jorubadá perscrutaram os de Perê, até que o rapaz os baixou e, ternamente,
encarou os da mãe. Jokú, com lágrimas nos olhos, sorria para o filho:
“- Não será Jokú, da tribo de Joru, valente e destemido, que
irá barrar o caminho de Perê. Joru foi testado em força e inteligência; em
sabedoria e bondade. E, diante de toda uma tribo oponente aos seus pés, impediu
que os seus, vencedores, tocassem num fio de cabelo dos vencidos. E foi o
próprio Ti-ti-rã, que navega a estrela cadente com sua esposa, eternamente, que
se encantou com a atitude de Joru e permitiu que ele e sua tribo habitassem tão
perto de Tori. Não. Não será Joku, da tribo de Joru, que lançará o medo no
coração de Perê”.
Levantando-se, a mulher abraçou seu filho, apertando-o um
pouco demais e sabendo que seu menino deixava o Bai para tornar-se homem. Foi
até uma arca no canto do cômodo e retirou um colar de penas e contas verdes e
azuis. Na ponta da pena maior luzia um pequeno cristal. Voltando-se para o
filho, pendurou o colar em seu pescoço. Depois, ela juntou num saco tecido por
suas próprias mãos mantos, agasalhos, toucas e tudo o que o filho pudesse
precisar. E ficou em pé, muito quieta, encarando Perê Azil.
Jorubadá levantou-se, tocou o ombro do rapaz e meneou a
cabeça em direção à fenda da tenda. Os dois se encaminharam para fora... Perê
se virou, beijou a testa de Anaiji-í, que tudo contemplava com os olhos
arregalados, beijou a mãe mais uma vez, atravessou a tenda e se foi.
E foi assim, sem a necessidade de dizer se queria ou não
seguir o caminho que surgia à sua frente – pois não lhe foi oferecida a opção –
que Perê Azil saiu pelo mundo.
Jana de Paula - Perfil
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