quinta-feira, 4 de julho de 2013

No mundo das previsões

Por: Jana de Paula

No mundo das previsões - sejam elas cabalísticas ou empresariais - todo cuidado é pouco.
A partir do momento que desejamos prever alguma coisa, colocamo-nos diante de perigos aos quais na maioria das vezes não atinamos da gravidade inerente. O pior deles me parece o de aceitarmos algum conhecimento exterior como infalível. Não importa se nos baseamos em Nietzsche (muito em voga), nos gregos (incansavelmente revisitados), nos escolásticos, nos techno...não importa. 

Livrar-se de charlatães não deve ser difícil para alguém com hábito de pesquisar e testar idéias. Mas esquivar-se dos donos da verdade, dos conceitos pré-estabelecidos por grupos a que pertencemos - ou queremos pertencer - não é fácil. Baseados nos modelos dos bem sucedidos nós acreditamos que seguindo seus passos chegaremos a bom termo. Eu mesma já acreditei nisso. Mas hoje, pelo método baconiano da negação, vi que esta metodologia é insuficiente.

É fácil notar que há certa tendência de se cultivar a 'fantasia do oráculo'; de que há alguém que vai responder a todas as dúvidas, a todos os problemas... Nem quem 'prevê' deve estar disponível às infindáveis queixas do 'consulente'; e nem este deve dizer amém a toda e qualquer intervenção, por melhor que pareça. Este é o tipo de relacionamento problemático que deve ser evitado a todo o custo.
Lembra-me a piada que ouvi sobre o contato de um mortal com Deus. Num dia de aguaceiro, um homem prestes a se afogar vê que se aproxima, rapidamente, uma lancha. O motorista lhe estende a mão, mas o homem a recusa, certo de que Deus vai ajudá-lo. Depois de engolir muita água, um barco maior também se aproxima e oferece salvamento. O homem insiste em aguardar o braço de Deus. Sua situação fica de fato crítica até que, finalmente, sobrevoa um helicóptero que larga a escada salva-vidas para que o homem se salve. Mas ele desdenha mais este auxílio e repete a frase: "Não. É Deus quem vai me ajudar". Exausto pelo esforço o homem, por fim, morre. Assim que chega ao Céu questiona o Todo Poderoso: "Porque não me ajudastes Senhor?" E Ele responde: "Mas se te mandei uma lancha, um barco, um helicóptero..."

Rascunhei, assim, uma espécie de 'tabela de raciocínio' que espero possa ajudar outros que vivam situação de 'sinuca de bico' em processos de inovação e criação de modelos inéditos e eficazes. Pois, se como dizem os papas da inovação esta implica a existência de um grupo, vamos colaborar no processo.

1) Haveria menos charlatães e donos da verdade no mundo das previsões empresariais se houvesse menos clientes submissos e indolentes.
2) Haveria menos fracassos se cada indivíduo não deixasse tudo nas mãos do grupo.
3) Haveria menos informações irrelevantes se não se evitasse ouvir o galo cantar sem saber onde.
4) Haveria menos contratos falhos, projetos fracassados e/ou abortados, menos dinheiro jogado fora se ficasse definido até que ponto vai a intervenção do consultor e do cliente. E até que ponto é mútuo o comprometimento.
5) Haveria muito menos decepções se o cliente evitasse a dependência total da consultoria.
6) Haveria muito mais contratos satisfatórios se fosse eliminado o caduco contrato perpétuo. Melhor uma parceria tipo Vinicius de Moraes - eterna enquanto dure. E nem pensar em fidelidade. A própria suposição de que a fidelidade deve ser imposta já gora a parceria.
7) Haveria menos decepções se a empresa que contrata não 'terceirizasse o conhecimento'. Assim estamos promovendo a abundância... do outro. Ou seja, seria melhor, bem melhor, se fizéssemos, antes, o dever de casa. Antes de pagar para alguém inovar por você, por que não experimenta a inovação em si mesmo? Ou pelo menos, informe-se, informe-se, informe-se.
8) Não pense que não tenho capacidade de formular estas idéias. Como ser que pensa, eu tenho, sim. Apesar de não ser nenhum guru (a não ser de mim mesma) posso exercitar meus neurônios.
9) Evite a todo o custo submeter-se a quem quer se arvore a líder, se a liderança for proposta de cima para baixo.
10) Evite trabalhar com pessoas que dão muito pouco e exigem demais.
11) Questione-se quando após realizar suas tarefas for solicitado para colaborar nas tarefas de outrem, se este outro não tiver a sensibilidade de reconhecer até que ponto pode pedir isso de você.
12) Subverta a própria hierarquia, se necessário. Mas tenha algo a oferecer. Aquele que subverte a ordem sem estar preparado para isso gera um caos maior.
13) Interesse-se por áreas totalmente alheias a seu tipo de conhecimento. Ingresse num mundo de conhecimento totalmente diverso do seu; aprenda outros conceitos; outros termos; outras formas de encarar a vida; se é líder, aprenda a ser liderado; se costuma ter seus insights em  pesquisas de campo experimente a pesquisa pura; se gosta de rock ouça Mozart...se é um consultor coloque-se na persona do cliente...e vice-versa.
14) Sempre tenha em mente a possibilidade de ter que jogar tudo fora e recomeçar...
15) Duvide das aparências. Elas, de fato, enganam.

Jana de Paula - Perfil

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