Por: Jana de Paula
No mundo das previsões - sejam elas cabalísticas ou empresariais - todo cuidado é pouco.
No mundo das previsões - sejam elas cabalísticas ou empresariais - todo cuidado é pouco.
A partir do momento que desejamos
prever alguma coisa, colocamo-nos diante de perigos aos quais na maioria das
vezes não atinamos da gravidade inerente. O pior deles me parece o de
aceitarmos algum conhecimento exterior como infalível. Não importa se nos baseamos
em Nietzsche (muito em voga), nos gregos (incansavelmente revisitados), nos
escolásticos, nos techno...não importa.
Livrar-se de charlatães não deve
ser difícil para alguém com hábito de pesquisar e testar idéias. Mas
esquivar-se dos donos da verdade, dos conceitos pré-estabelecidos por grupos a
que pertencemos - ou queremos pertencer - não é fácil. Baseados nos modelos dos
bem sucedidos nós acreditamos que seguindo seus passos chegaremos a bom termo.
Eu mesma já acreditei nisso. Mas hoje, pelo método baconiano da negação, vi que
esta metodologia é insuficiente.
É fácil notar que há certa
tendência de se cultivar a 'fantasia do oráculo'; de que há alguém que vai
responder a todas as dúvidas, a todos os problemas... Nem quem 'prevê' deve
estar disponível às infindáveis queixas do 'consulente'; e nem este deve dizer
amém a toda e qualquer intervenção, por melhor que pareça. Este é o tipo de
relacionamento problemático que deve ser evitado a todo o custo.
Lembra-me a piada que ouvi sobre
o contato de um mortal com Deus. Num dia de aguaceiro, um homem prestes a se
afogar vê que se aproxima, rapidamente, uma lancha. O motorista lhe estende a
mão, mas o homem a recusa, certo de que Deus vai ajudá-lo. Depois de engolir
muita água, um barco maior também se aproxima e oferece salvamento. O homem
insiste em aguardar o braço de Deus. Sua situação fica de fato crítica até que,
finalmente, sobrevoa um helicóptero que larga a escada salva-vidas para que o
homem se salve. Mas ele desdenha mais este auxílio e repete a frase: "Não.
É Deus quem vai me ajudar". Exausto pelo esforço o homem, por
fim, morre. Assim que chega ao Céu questiona o Todo
Poderoso: "Porque não me ajudastes Senhor?" E Ele responde:
"Mas se te mandei uma lancha, um barco, um helicóptero..."
Rascunhei, assim, uma espécie de
'tabela de raciocínio' que espero possa ajudar outros que vivam situação
de 'sinuca de bico' em processos de inovação e criação de modelos inéditos e
eficazes. Pois, se como dizem os papas da inovação esta implica a existência de
um grupo, vamos colaborar no processo.
1) Haveria menos charlatães e
donos da verdade no mundo das previsões empresariais se houvesse menos clientes
submissos e indolentes.
2) Haveria menos fracassos se
cada indivíduo não deixasse tudo nas mãos do grupo.
3) Haveria menos informações
irrelevantes se não se evitasse ouvir o galo cantar sem saber onde.
4) Haveria menos contratos
falhos, projetos fracassados e/ou abortados, menos dinheiro jogado fora se
ficasse definido até que ponto vai a intervenção do consultor e do cliente. E
até que ponto é mútuo o comprometimento.
5) Haveria muito menos decepções
se o cliente evitasse a dependência total da consultoria.
6) Haveria muito mais contratos
satisfatórios se fosse eliminado o caduco contrato perpétuo. Melhor uma parceria
tipo Vinicius de Moraes - eterna enquanto dure. E nem pensar em fidelidade. A
própria suposição de que a fidelidade deve ser imposta já gora a parceria.
7) Haveria menos decepções se a
empresa que contrata não 'terceirizasse o conhecimento'. Assim estamos
promovendo a abundância... do outro. Ou seja, seria melhor, bem melhor, se
fizéssemos, antes, o dever de casa. Antes de pagar para alguém inovar por você,
por que não experimenta a inovação em si mesmo? Ou pelo menos, informe-se,
informe-se, informe-se.
8) Não pense que não tenho
capacidade de formular estas idéias. Como ser que pensa, eu tenho, sim. Apesar
de não ser nenhum guru (a não ser de mim mesma) posso exercitar meus neurônios.
9) Evite a todo o custo
submeter-se a quem quer se arvore a líder, se a liderança for proposta de cima
para baixo.
10) Evite trabalhar com
pessoas que dão muito pouco e exigem demais.
11) Questione-se quando após
realizar suas tarefas for solicitado para colaborar nas tarefas de outrem, se
este outro não tiver a sensibilidade de reconhecer até que ponto pode pedir
isso de você.
12) Subverta a própria
hierarquia, se necessário. Mas tenha algo a oferecer. Aquele que subverte a
ordem sem estar preparado para isso gera um caos maior.
13) Interesse-se por áreas
totalmente alheias a seu tipo de conhecimento. Ingresse num mundo de
conhecimento totalmente diverso do seu; aprenda outros conceitos; outros
termos; outras formas de encarar a vida; se é líder, aprenda a ser liderado; se
costuma ter seus insights em pesquisas de campo experimente a pesquisa
pura; se gosta de rock ouça Mozart...se é um consultor coloque-se na persona do
cliente...e vice-versa.
14) Sempre tenha em mente a
possibilidade de ter que jogar tudo fora e recomeçar...
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