Estar aqui. Estar
aqui, onde? Estar aqui sozinha? Fica-se, de fato, sozinha? Bem, fica-se a
sós.... Ah isso sim.
Quantas realidades
existem? As realidades existentes são as únicas realidades reais? Eu posso
criar realidades ilusórias e realidades reais e todas são tão realísticas! E
todas são ilusórias. E todas são. Onde fica o momento presente? O momento
presente é feito de quê? Quando trago o pretérito para o presente, o pretérito
se torna mais que perfeito? E o futuro? Em que lapso de tempo ele é subjuntivo?
E quanto às cores?
Elas existem? Digo, elas são reais ou ilusórias? E sendo tanto uma coisa quanto
outra, eu posso mudar a cor das cores? Posso criar cores novas? Ou as cores são
apenas resultados? Resultados de impulsos? Impulsos elétricos? Impulsos
eletromagnéticos? Impulsos impulsivos? Impulsos criativos? Não se cria o cinza
per se. Tipo, hoje eu vou criar os tons cinzentos. Um pensamento fininho,
limitado deve vir antes.... Uma emoção convulsa.... Um temor... isso cria a
palheta gris...
Daí, talvez não se
possa mudar a cor das cores como elas se apresentam, mas pode-se ver e sentir e
perceber o imenso potencial de ser ao mesmo tempo cores mais coloridas, mais
vívidas... tipo ah!
Esta minha palheta
gris cobre um espectro de cores realmente impressionante! Eu tenho pintado
enormes painéis, retábulos, pôsteres e delicados pratos de porcelana com a
palheta gris... produzido e dirigido filmes onde predominam os cinzentos, em
todos os seus matizes. As películas alcançaram estrondoso sucesso nas minhas
salas de exibição. Extensas filas nas bilheterias... muita pipoca e lencinhos
de papel... Sim, o êxito comercial tem sido polpudo!
E, de repente,
ficou tudo meio aborrecido, meio repetitivo... meio... cinza? Pois é.
E há um elemento
que surge daí. A criação em gris jamais se limitou ao fator tempo-espaço. Criou
roteiros épicos, religiosos, de aventura, romance, capa & espada, guerra
& paz, science fiction, viagens ao centro da terra e pelo longínquo
universo. E também produziu, é claro, pungentes documentários sobre a
contemporaneidade. Não deixou de lado nenhum estilo. Ou seja, jamais se limitou
ao conceito passado-presente-futuro. Como afirmar em sã/insana consciência que
a palheta gris não é criativa?
Os pensamentos em
cinza criam em cinza para bloquear outras palhetas? Os pensamentos temem ser
descartados, postos de lado, caso parem de limitar a criatividade a seus
próprios muros, às cinzas paredes de seus domínios?
De que forma eu
pulo fora da paleta gris?
Eu devo destruir
os imensos estúdios criados pelo pensamento? Devo tocar fogo nos figurinos?
Queimar os rolos bolorentos com centenas de milhares de quilômetros de acetato
e vinil? Provocar um curto circuito nos fios que controlam andaimes, iluminação
e cenário de palco? Preciso atear fogo na coxia? É hora de montar uma enorme
fogueira para nela jogar milhares de volumes de romance, poesia, estratégia
política e militar, economia, astrologia, teologia, filosofia, autoajuda?
Talvez eu deva eliminar os instrumentos da orquestra.... Seria hora de eliminar
todas as partituras e gravações? Toda música e canção, a trilha sonora da
criação em tons cinza?
Não, não. Nada
desta trabalheira. Apenas volto ao essencial. E o essencial Sou Eu. É onde, ao
invés de destruir para recriar, eu simplesmente sonho. Sonho outros mundos,
outras paradas, outras realidades, outras músicas, outras tantas cores. Aí,
embora às vezes pareça escuro, nem o negro há. O negro já é criação. Assim como
a chama ardente e todo o movimento primordial. O mundo cinza continua – toda
criação é livre - e talvez, apenas talvez, seja capaz de captar o movimento primevo
e se recriar a si mesmo. Tudo é permitido no lugar que Sou Eu.
Jana de Paula -
J'adhamn
Ouça em audiobook no Soundcloud https://soundcloud.com/janadep/toda-criacao-e-livre
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