Caso se expanda um
pouco mais, é possível sentir o humor, a risada. Pois, findo o ato do drama, a
Atriz retorna ao camarim e ‘pendura’ o personagem no cabide. Foi só um ato. A
Atriz se olha no espelho e sabe que entre as opções que dançam à sua frente, há
sempre uma carregada de drama – que é caminhar na Vida com “as mãos sujas do
sangue das canções”. É quando se permite
que o personagem domine corpo, mente e espírito, cobrindo com um véu o fato de
que se trata apenas de um ato, tornando a vida um drama que jamais sai de
cartaz.
E, pelo visto, a
Atriz é sábia. Ela ‘limpa com um pano de prato’. Ela permite que todos os
outros personagens que vivem nela se ‘inteirem’, tomem consciência do ato
executado, sem julgamentos. Enquanto ela limpa ‘as mãos sujas’ ela está ciente
do personagem e de que se trata disso: um personagem. Ela não quer sair do
camarim levando aquele personagem para outras paradas. Porque ela sabe que há
outros caracteres que querem vir à tona, os da comédia, os insanos, os
sofridos, os confusos e os esclarecedores.
Todos dançam à sua
volta e todos merecem a mesma atenção, o mesmo cuidado. Alguns ela leva ao
palco e – ao fim de cada ato – ouve os aplausos e os sente correndo livres pelo
teatro. Outros permanecem ocultos para o público, mas não para ela, a Atriz. E,
é claro, há os que são rejeitados pelos fãs ou pelos críticos. Mas para ela, a
Atriz, tudo é canção, tudo é dança, tudo é vida. Até o dia em que ela decidir
cancelar o show e permitir-se simplesmente Ser.