quarta-feira, 20 de abril de 2016

Lugar de drama é no palco!


“Drama. E ao fim de cada ato, limpo num pano de prato, as mãos sujas do sangue das canções”. Estes versos, compostos pela cantora Maria Bethânia, estão carregados de drama. E quando se deixa que as palavras e a música se expandam um pouco mais, é possível sentir mais e mais camadas. Drama não passa mesmo disso – um ato. E como se sabe um ato ‘termina’ e ou se começa outro ato ou se encerra o drama.

Caso se expanda um pouco mais, é possível sentir o humor, a risada. Pois, findo o ato do drama, a Atriz retorna ao camarim e ‘pendura’ o personagem no cabide. Foi só um ato. A Atriz se olha no espelho e sabe que entre as opções que dançam à sua frente, há sempre uma carregada de drama – que é caminhar na Vida com “as mãos sujas do sangue das canções”.  É quando se permite que o personagem domine corpo, mente e espírito, cobrindo com um véu o fato de que se trata apenas de um ato, tornando a vida um drama que jamais sai de cartaz.

E, pelo visto, a Atriz é sábia. Ela ‘limpa com um pano de prato’. Ela permite que todos os outros personagens que vivem nela se ‘inteirem’, tomem consciência do ato executado, sem julgamentos. Enquanto ela limpa ‘as mãos sujas’ ela está ciente do personagem e de que se trata disso: um personagem. Ela não quer sair do camarim levando aquele personagem para outras paradas. Porque ela sabe que há outros caracteres que querem vir à tona, os da comédia, os insanos, os sofridos, os confusos e os esclarecedores.

Todos dançam à sua volta e todos merecem a mesma atenção, o mesmo cuidado. Alguns ela leva ao palco e – ao fim de cada ato – ouve os aplausos e os sente correndo livres pelo teatro. Outros permanecem ocultos para o público, mas não para ela, a Atriz. E, é claro, há os que são rejeitados pelos fãs ou pelos críticos. Mas para ela, a Atriz, tudo é canção, tudo é dança, tudo é vida. Até o dia em que ela decidir cancelar o show e permitir-se simplesmente Ser.