quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Diferenças entre um Pirata e um rato (Português/English)

O rato rói tudo pelas bordas, embora esteja faminto.
O rato adota o esconderijo como defesa.
Ataca, apenas, quando suas chances de vencer são enormes
- Prefere atuar diante da vítima acuada.

O Pirata singra os mares em busca da aventura,
Do saque explícito, do prazer efêmero.
Sob o estandarte negro, abre as narinas para sorver
O ar fragrante do oceano. Não busca vítimas, só parceiros
Nas suas arriscadas experiências.

O rato se alimenta do que não lhe pertence.
Vampiro sem asas, abocanha aos pedacinhos,
Lambe o doce e o sal que está sobre a mesa
Posta para outra pessoa.

O Pirata é amoral. Para ele, o ouro é ecumênico.
Produto das entranhas da terra, cujo solo ele pisa, temerário,
o ouro pertence àquele que melhor sabe preservar seu baú.
Mas o Pirata sabe, também, que a própria terra pode reivindicar seu quinhão
E engolir de volta a riqueza que, um dia, o mar irá regurgitar.
O Pirata não vampiriza, pois sabe que a riqueza é infinita – e cíclica.

O prazer do rato é dilacerar, dilapidar.
Ao ser apanhado no ato de uma artimanha,
Ele baixa os olhos e faz ar de vítima:
“Por Deus! Que culpa me cabe por eu ter nascido rato? ”
Mas é apenas um ardil. No ‘rabo de olho’ ele já vislumbra uma nova delícia,
E seus olhinhos brilham de prazer...

O rato e sua turma são os primeiros a abandonar o barco;
Já o Pirata defende o veículo que o transporta através dos mares,
pois seu barco carrega seu Espírito
E, como já bem disse o Poeta, “Navegar é preciso”.


English Version here

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A Nova Isis


Eu não cobiço nada de teu.

Eu não me busco em Ti.

Os mundos que eu crio não os crio para ti.
Meus braços não são abrigo para teu descanso.
Meu leito perfumado não foi feito para restaurar nem apascentar.

Tu sabes, Amado
Não busco fogos extintos em brasas mornas.
Tu sabes, Amado
Agora estamos inteiros.

As partes dissecadas se reuniram.
Ah! Os sonhos mutilados cicatrizaram tão bem!
Nossa carne – dez mil vezes dissecada e espalhada aos quatro ventos
Se renovou.

Nosso sangue - incontáveis vezes coagulado e putrefeito –
Agora corre livre e novo pelas nossas veias.
Não há nada aí fora para mim.
Tudo pulsa e vibra e ressoa em Nós.

Nossos cômodos não têm janelas nem portas.
Aqui não se sabe o significado de trancas e grilhões.
Todas as feras são livres.
Toda escuridão é bem-amada.
O riso, o puro riso de gozo, escorrega por tudo o que é plano
E dança feliz através do que é abrupto.
Todo sentimento retorcido vale uma canção.

O prazer infinito ribomba pela abóboda gigantesca e aconchegante do Ser.
Como cobiçar algo de ti, se essa simplicidade é todo o necessário?
Não fuja de ti mesmo.... Afinal, para onde podes ir além de para ti mesmo?

Sem mais partes espalhadas e pontas soltas, enfim podemos nos amar em glória.

J’adhamn – Primavera de 2015